segunda-feira, 19 de março de 2018


COMO VOCÊ INTERPRETA?! – XLIX

Ao comunicar a André Luiz o propósito de reencarnar, a sua mãe, justificando o sacrifício, lhe diz:
- Não consideras a angustiosa condição de teu pai, meu filho? Há muitos anos trabalho para reerguê-lo e meus esforços têm sido improfícuos. Laerte é hoje um céptico de coração envenenado. Não poderia persistir em semelhante posição, sob pena de mergulhar em abismos mais fundos. Que fazer, André? Terias coragem de revê-lo em tal situação, esquivando-te ao socorro justo?”
Notemos que muitos espíritos, a fim de começarem a empreender a sua mudança íntima, espíritos que se unem ao nosso grupo familiar, pedem muito tempo de trabalho a todos os que por eles se interessam, e, não raro, esse trabalho costuma ser improfícuo, impondo, então, a necessidade de maior esforço e renúncia dos que se sentem no dever de auxiliá-lo.
A consciência de quem sobe não permite que os que ficaram para trás sejam simplesmente esquecidos, largados à própria sorte.
Felizmente é assim, pois, caso contrário, espíritos retardatários que somos haveríamos de “mergulhar em abismos mais fundos”, dos quais não sabemos dizer como e nem quando haveríamos de nos resgatar.
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A mãezinha de André ainda lhe diz que o seu pai seria constrangido à reencarnação imediata... Certamente que Laerte não desejava voltar ao corpo carnal – algo dementado que se encontrava, não estava em condições de escolher o melhor para sim. Foi neste sentido que André formulou a indagação:
- Mas isso é possível? E a liberdade individual?
A sua mãe respondeu:
- Há reencarnações que funcionam como drásticos. Ainda que o doente não se sinta corajoso, existem amigos que o ajudam a sorver o remédio santo, embora muito amargo. Relativamente à liberdade irrestrita, a alma pode invocar esse direito somente quando compreenda o dever e o pratique. Quando ao mais, é indispensável reconhecer que o devedor é escravo do compromisso assumido. (...)
A resposta obtida por André nos leva a pensar nos defensores dos direitos humanos para todas as criaturas, inclusive para aqueles que, pelos crimes praticados, se tornam grandes devedores da coletividade. Qualquer infrator da lei, quando não se dispõe, conscientemente, ao reajuste, deve ser constrangido a ele, pois, se assim não acontecer, o mal haverá de se perpetuar em seu espírito.
O livre arbítrio é relativo, e não absoluto, a não ser, claro, para os espíritos que se redimiram.
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Em seu sacrifício de amor, a mãezinha de André lhe comunica que, além de consorciar-se, outra vez, com o seu pai, Laerte, receberia, na condição de filhas, duas mulheres que ele havia deliberadamente enganado.
Ao espanto que André demonstra, a genitora esclarece:
- (...) Ninguém ajuda eficientemente, intensificando as forças contrárias, como não se pode apagar na Terra um incêndio com petróleo. É indispensável amar, André! Os que descreem perdem o rumo verdadeiro, peregrinando pelo deserto; os que erram se desviam da estrada real, mergulhando no pântano.
Quem, talvez, já estando encarnado, não se encontra dentro das lutas afetivas que esboçou para si mesmo no Mundo Espiritual, antes de novo mergulho na carne?! Quem, com certeza, não estaria fugindo ao compromisso, desprezando corações, que, antes reencarnar, prometera trabalhar para redimir?!...
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É de se notar que a genitora de André, quando na Terra, sequer conhecera o Espiritismo, não constituindo diferencial para o espírito qualquer rotulagem de natureza religiosa que ele venha a ostentar, esteja encarnado ou desencarnado. O que verdadeiramente conta é a riqueza moral que o espírito estesoura em sua capacidade de amar.

INÁCIO FERREIRA

Uberaba – MG, 19 de março de 2018.